por.NE.dissidência
[convocatória]
ao curso dos últimos anos, a pornografia tem passado por consideráveis transformações estéticas, mas, sobretudo, seu regime de produção se transformou. com a globalização da internet, o mercado pornográfico pôde assistir de camarote à vertiginosa aceleração da tendência pós-industrial: no marco da pornografia “caseira” ou “amadora”, basta um corpo excitável, uma câmera e um suporte na internet (gratuito ou pago) para movimentar jorros de capital masturbatório. para b. preciado, é esse caráter extremamente rentável do negócio pornográfico (baixo custo+produção de prazer imediato) que o transforma em modelo para os demais setores da indústria cultural, não obstante seu caráter de segredinho sujo. nesse sentido,david friedman, produtor pornô, compara a produção pornográfica contemporânea aos freak shows dos séc. XIX e XX – como zona da indústria do espetáculo relegada ao ostracismo e à ilegalidade1.
com a expansão das fronteiras do império pornográfico, também uma multiplicidade de conhecimentos tiveram emergência nos campos artísticos, teóricos e políticos, tanto num sentido abolicionista da pornografia, quanto em direção a ocupações desviantes desse dispositivo – formas de decantar o pornopoder à pornopotência. ambos os movimentos sabem que o mercado pornográfico mainstream reforça uma profunda marca sobre fantasias coloniais, de gênero, capacitistas, especistas, de classe social e geopolíticas; o que diferencia as novas criticas são os sentidos a que se gerem as resistências a isso, já que, por um viés abolicionista, intenta-se dar fim ao dispositivo. na via das pornodissidências o trabalho é precisamente outro: o de restitui-lo àquelxs que são explorades por ele, perfodendo o dispositivo pornográfico.
por.NE.dissidência é um circuito integrado de produção de conhecimento artístico em torno de questões ligadas à pornografia, especialmente às contracondutas pornográficas que se podem insinuar desde a região nordeste do brasil. para tanto, convocamos uma manada aberta de artistas, trabalhadorxs anais e teoricus que, de alguma maneira, sentem, produzem e se movem na via das pornodissidências. a articulação a que nos propomos mira, como desdobramento, pelo menos, dois espaços de escoamento: 1. uma plataforma online a ser ativada como arquivo afetivo-político de textos curatoriais, textos de artistas, acervo de referências, entrevistas, ensaios e podcasts produzidos como resíduo do processo em rede; e 2. uma exposição multimídia, coletiva, a ser realizada no mês de outubro, na pinacoteca potiguar (rn).
a equipe curatorial é formada peles curadorxs Dora Bielschowsky e Jota Mombaça (Monstrx Erratik) e conta com as provocações de Pedro Costa e Fer Nanda Nogueira.
1 Beatriz Preciado, “Pornopoder”, Testo Yonqui, Espasa, Madri, 2008, pg.180