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andré bezerra

Coletivo ES3

bio

André Bezerra (1987- )

Mestre em performance arte pelo PPGArC – UFRN, pesquisador, atua como performer e artista visual residente na cidade do Natal – RN. É fundador e integrante do Coletivo ES3 (http://coletivoes3.flavors.me/), tendo participado integralmente de todos os projetos no currículo deste. Possui performances apresentadas em festivais nacionais e internacionais realizados no Brasil nos estados da Bahia (UFBA), Ceará (64º Salão de Abril; Mostra Sesc Cariri de Cultura), Minas Gerais (UFMG; Sesc Palladium), São Paulo (Central Galeria de Arte, Instituto Hilda Hilst), Rio Grande do Sul (Atelier Subterrânea), Paraná (Espaço Tardanza) e Distrito Federal (Casa da Cultura da América Latina).

Integrou exposições coletivas na cidade do Natal (Pinacoteca do Estado do Rio grande do Norte), na Bahia (Galeria Cañizares) e Rio Grande do Sul (UFRG) e atualmente participa de exposição na Cidade do Porto (Portugal). Realizou ainda no Rio Grande do Sul (Atelier Subterrânea) e Rio grande do Norte (Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte) duas exposições individuais.

Possui textos publicados em livros e periódicos on-line e off-line, e trabalhos e palestras apresentados em diversos estados do Brasil, com ênfase na performance, política e teoria da arte.

Atua ainda como curador e gestor cultural de projetos no campo das artes do corpo e artes visuais, com destaque para a produção do Circuito Regional de Performance BodeArte (www.circuitobodearte.blogspot.com.br).

Coletivo ES3 (2009 – )

O ES3 é formado por André Bezerra e Chrystine Silva, e foi criado em 2009 na cidade do Natal. Desde então apresentou seus trabalhos em diversos circuitos de arte pelo país, percorrendo mais de dez estados brasileiros. Se alguma definição lhe pudesse ser conferida, pode ser apontado como um coletivo com grande preocupação, tanto artística quanto formativa e política, com o corpo, nas dissidências, composições e ações deste. É ainda produtor e criador do Circuito Regional de Performance BodeArte, organismo de trocas e resistências em performance arte no Brasil.

statement

“Todos assobiamos, mas certamente ninguém cogita fazê-lo passar por arte; assobiamos sem prestar atenção nisso, até mesmo sem perceber, e muitos entre nós ignoram totalmente que o assobio faz parte de nossas peculiaridades. (…) Mesmo que fosse apenas o nosso assobio cotidiano, aqui já existe a singularidade de alguém que se põe, solenemente, a não fazer outra coisa senão o usual.”

Franz Kafka, Josefine, a Cantora ou O Povo dos Ratos

 

Arte. Algo a priori desnecessário, acessório na vida estimada pelos atuais sistemas neo-liberais. Ao mesmo tempo de extrema importância para a ultrapassagem das nossas limitações de pensamento. Simultaneamente lugar de comércio e poder e invendável ação filosófica de singularidade. Concomitantemente espaço onde múltiplas perspectivas não deveriam coalescer, parafraseando Barthes.

Somos professores, e como tais somos questionados com frequência: “para quê serve a Arte?”, e em situações práticas do dia-a-dia ficamos inclinados a dizer “para nada”, mas nos recusamos.

As inovações tecnológicas do nosso tempo e a incrível necessidade e facilidade de atualização das nossas “linhas do tempo” não nos permitem enxergar para além das coisas como elas projetam ser, sua superfície. É difícil perceber que, se pensarmos um pouco mais aprofundadamente, o fato de duas pessoas do qualquer gênero estarem se beijando em público, presentifica somente dois seres exercitando a liberdade de seu amor, é difícil se dar conta também que uma performance não se trata de um empreendimento da moral e sim de uma brincadeira ética.

Basta olhar um pouco mais, de corpo inteiro, não é preciso muito.

Buscamos os processos das coisas e esta é a ilha de resistência da arte que fazemos, a busca por processos nas coisas do dia-a-dia, naquilo que mais compreendemos como natural. O momento de contato com um trabalho artístico é o momento de ser afetado por algo usual ou não, mas que nos permite ver o mundo pelos olhos de um outro (corpo, tempo, lugar, mundo). Como disse Kafka na epígrafe acima, é tempo de nos colocarmos a não fazer/perceber nada senão o usual, que as coisas que são se movem, estão e são o processo que ativam.

Nosso corpo em ação é político, é investigador de espaços entre estados, culturas, entre corpos. No calor entre os corpos, no encontro entre um e outro, e na negação de um fechamento da dialética em direção as questões que se processam, inventamos nossa vida em performance.

Nossas dinâmicas de criação artística partem de questões micropolíticas, questões que estão nas bocas banguelas, na volta de ônibus para casa, nas mesas dos bares, nas marquises populadas, nos dedos calejados que costuram, nos olhos atentos que desfiam. Pensamos estas micropolíticas enquanto ações em trânsito nas relações cotidianas, mais distantes de uma política partidária e mais próximas de atitudes focadas em questões mais específicas como o gênero, a fome, a impunidade, o direito à educação e à habitação, à ecologia, o amor, enfim, tudo aquilo que nos diz respeito e se entrelaça à vida.

Em nosso trabalho, ao entrarmos em contato com o outro estamos na emergência micropolítica inevitável de deixarmos de ser quem somos, para sermos e estarmos algo diferente, mas nunca definitivo.

Ao mesmo tempo pensamos numa perspectiva nietzschiana de universalidade do absolutamente singular, nesse sentido as micropolíticas estão nas fomes compartilhadas com o outro. Se nossos pés tocam o mesmo chão, nossos corpos tocam multiversos de poéticas singulares.

Pensando esta arte/processo/dinâmica de vida, é praticamente impossível que compreendermos que a maneira que criamos nossa arte não se preste a nada. Ou talvez não, se preste a nada, quando a nadificação é o ato de movimentar aquilo que aparentemente se conhece todo.

Somos artistas-pesquisadores em Arte Contemporânea atuantes na cidade do Natal com interesses em questões micopolíticas, singulares e em processo.

Em nosso fazer o trabalho de arte, nas proposições que aciona, pertence ao mundo e não mais ao artista, e nossas intenções, motivações, ou a falta delas, deixam de ser uma questão principal para ser plano de fundo dele, que ganha afetos ou desafetos ao tocar outras subjetividades, ou micropolíticas.

A arte é uma dinâmica de vida que, como qualquer outra, depende da relação do sujeito com ela para criar espaços de afetação.

O coletivo é nossa forma de existência-sobrevivência, é a forma de insistir na nossa emergente forma de vida, de nos ajudarmos e de vermos além do que um só veria, de transitarmos entre a irredutível singularidade e as potências comuns. Como ES3 somos isso e issos.